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19 de agosto de 2006

Ator impotente

O sentimento que tenho
é que sempre fui o coadjuvante.
Um coadjuvante atrevido,
que aproveitou a gripe do ator principal
pra tentar mostrar seu potencial.

Você, como um diretor dedicado
(ou seria necessitado)
com paciência, me moldou para o papel.
E eu, como um ator ambicioso,
fiz muito pra tentar lhe convecer que conseguiria.

Mesmo assim, tenho certeza que durante todo o ensaio
nesta semana que se passou, você pensava:
"por que aquele maldito ficou gripado?
aposto que esta cena ele faria melhor",
mesmo sem tê-lo visto atuar.

Na primeira cena em que assumi o posto
confesso que percebia essa indagação escrita no teu rosto
e eu sabia que passaria por isso.
Segurei firme.

Depois você entrou no jogo.
Eu me convenci que estava conquistando o papel.
Tenho certeza que minha atuação durante esta semana
lhe fez perceber vários detalhes importantes para a peça.
Detalhes que, quem sabe, você não perceberia com outro ator.

Ao fim da semana de ensaios me desanimei
com as responsabilidades de ser o ator principal.
Você, com certeza do meio da semana pra frente
deve ter ficado convencido que eu não era o cara pro papel.

Seria fidelidade pelo antigo ator?
Não duvido que ele se encaixe muito bem na peça,
só espero que ele tenha tomado bastante vitamina C.
Não gostaria de saber que foi em vão
esta semana de tanta dedicação pela peça.
Tenho certeza que você saberá adaptá-lo
às mudanças que ocorreram até então.

E eu? Estou contente com o papel de coadjuvante.
Afinal fui eu que pedi para retornar ao posto
(apesar de não saber da recuperação do principal).
Mas preciso dizer que as vezes sinto falta do
frio na barriga causado pelas falas do ator principal.

Não me sinto traído.
Nem um pouco.
Só sinto que nunca fui visto como ator principal,
mesmo tendo desempenhado o papel por certo tempo.
Uma espécie de impotência.

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